Quem sou eu

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Ivan Luiz de Oliveira, também conhecido como Téo, por isso Ivan Téo; nasci em Colorado-PR e resido em Maringá-PR desde 1991. Gosto da arte sem máscaras, embora isso não exista. Mas eu também gosto de coisas que existem, não se preocupe!

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

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O boêmio, louco de razão,
Ignorou o riso condescendente
Dos que o louvaram, irônicos.
Deixou-se guiar nas espirais em que caiu
Como se elas tivessem uma direção.

Rancho da goiabeira

Para Angie e Pedro


No fundo daquele rancho
Nasceu uma goiabeira
Se antes não tinha dono
Agora é da vila inteira.

Pé-de-goiaba moleque
Pé-de-goiaba matreira
O rancho agora sorri
O rancho da goiabeira.

Mas só que tem um problema:
Zangou-se o dono da venda.

Ninguém mais compra goiaba
Naquele seu armazém.
Só a goiaba do rancho
Que não precisa vintém.

O discurso das coisas

O tempo corre contra o tempo
Que tenho e é pouco
Corro e me perco em tempestades infinitas...

Minhas horas em segundo plano
Estrela cadente, incandescente
Que incendeia o verso em que falo.

Espaço silêncio memórias
Ínfima realidade espaço
A ruir as ânsias de minha alma,
Temporal a romper dos sentidos a aceitação do que é próximo.

A busca constante por dizer o indizível
Com receio de que o tempo cale antes
A última e tão esperada palavra...

E quando não mais houver tempo,
Constatar que não eram as palavras que mudariam o curso das coisas
Mas a aceitação do discurso que elas rodearam.

Sob o brilho do sal

Nau que se perdeu no mar,
Eu, chamariz nos seus atóis
Balançando conforme a onda
Dos seus braços me sufocando,
Me respirando.

No fundo do seu mistério,
Eu procurando a razão
De por que ir tão fundo
Sabendo que nunca mais voltaria à tona.

A profundeza em que nos encontramos
Parece bem mais interessante
Do que a vida fora da caverna
Se o sol não nos aquece.

A vida exige escolha:
Ninguém pode ou deve querer
O sol e a profundidade do mar
Pois seria querer demais.

Então inventamos um sol
Debaixo do mar
E seu brilho refletia no sal
Que corria em nossas veias
E éramos todos brilho
E o mar que era deserto
Passou a ser a vida desejada
Fora da caverna
Com um sol muito mais intenso
Do que o real,
Do que aquele que os nossos olhos
Não podem olhar.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O mar ausente

A minha terra é de mar ausente
Cais não há e seu porto é seco
O mar do nome é só acidente
Mar de Maria sincopado entre Maria e ingá.

Ingá é fruto que dá no ingazeiro
Maria, mulher que partiu
E virou lenda e canção.

Se mar e porto aqui houvesse,
Maria talvez fosse mais mulher
Mas como mar aqui não há,
Só o ingá,
Não é de praia nem de ilha, Maria
É só lenda na imaginação...

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Zé Fausto

Todas as metas alcançadas,
Zé Fausto se pergunta:
e agora?


A MORTE PEDE PASSAGEM...


Zé Fausto esqueceu que se morria.
– Todo mundo morre, Zé,
e agora?

Do suco por trás do véu

Não basta saber o suco
Atrás de cada casca
Mas sorver a seiva
Depois da casca que o impede.

Uma noiva é o suco por detrás do véu
E despi-la desse véu
É saborear o suco em todo o seu mistério.

O objeto casca se contempla
Em formas inacabáveis
Não é para sentir o gosto que concentra
É fruta que se vê por fora.

Então, depois do dentro da fruta,
do suco por trás do véu,
Os olhos já não são os mesmos
Porque o mistério é muito maior...

À terceira margem

Amar é ficar absurdo do mundo
Sem telefone ou endereço...


I

O óbvio de mim
Dentro de mim
Sempre a me dizer quem sou
Sem que eu peça...

O futuro que não tenho
O sonho que eu não sou
Minha realidade morta.

Só é possível conhecer a vida imaginando a morte
Essa é a alegria do tempo
Que nos engole a toda hora.

Mas, como dizer teu nome sem encontrar as palavras ...?

Melhor seria não dizer nada
E ir mais fundo,
A qualquer preço.


II

Uma mulher sorriu e me disse boa noite.
Eu, ouvindo “Cuide bem do seu amor”, do Paralamas
Deitado na sala de estar
Como um palhaço
Divertindo-se.


(O olhar calmo e triste daquele homem
Ë a minha história,
Que sempre achei engraçada.

O problema é que graça de mais
Às vezes atrapalha.
Tira a outra margem do rio
que é de pedra.)



III

o amor não passa na TV
não é potência, é ato.

mais gesto que palavra,
desliza em todas as partes do corpo
sem ressentimento...

Dos cavalos selvagens do meu sonho branco

É a chuva caindo noite a dentro
Escurecendo lenta e suavemente
A paisagem agora é só um vulto,
Uma música que se ouve longe...

Sob cortinas calmamente cerradas,
Os cavalos selvagens do meu sonho branco
Pisam caminhos já percorridos
E seguem o rumo de outras eras...

(Pela porta entreaberta, vê-se que são dois:
O em que vou e o outro,
Cuja face de quem vai
Eu ainda não posso enxergar

Pode ser uma vida inteira
Ou uma noite apenas
O tempo deste poema,
A chuva nesta floresta que não percebo o sol adiante...)

Reflexão


O que vejo no espelho é uma parte que não é minha.
Parte que bem conheço porque desconheço.
A parte que é minha tem no espelho nenhum começo.

Não hesito em quebrar todos os espelhos
E negar, assim, o reflexo das coisas aparentes
Que já existiam antes da necessidade do auto-espelhamento.

A parte que é a minha
Reflete-se por outros meios,
Para outros fins.

Para o fim de tudo o quanto existe
E sem saber por que tudo e quanto existem.
Ato pleno de abnegação!
O individual visto na não-imagem
Mas no fenômeno de si próprio:
Mistério e naturalidade.

Telurgia

A terra tece o homem que nela nasce
que se faz segundo seu relevo e seu desvelo
ele sai da terra apenas para voltar a ela
com saudade e carência de aconchego
acalanto do homem
terra em que nasce, qual semente de um novo fruto
e em que morre, qual folha seca de outono
para virar pó e sacramentar sua única sina
Terra-fênix, mãe do tempo, mãe da vida: amor!

Cicatriza a voracidade do tempo
e encobre as marcas da crueldade
para que a dor não seja tão grande
ampulheta, a contar as horas que restam
mesmo que ninguém perceba.

Aquilo que se quer de bem

Voltar é verbo retransitivo
Transgressor
Longínquo
Sem medida
Nem direção

Toda palavra só fala aquilo que se quer ouvir
Para o próprio bem
Eis-nos
Ethos
Fantasia

A moral do mundo é este abismo
Entre nós...

Estrela e chão

Minha alegria não sei esconder.
Tampouco da tristeza faço conta
o silêncio, como sói acontecer.
Sou chão e estrela e todo o resto é mar...

A minha alegria não tem mistério,
é alegria de sorriso aberto:
rio de tudo que passa e tem graça
e do que ainda não se sabe certo.

Já tristeza é estar mais perto do chão,
ausente do brilho que tem a estrela...
É ver só com olhos, sem coração.